Do erro ao acerto: Maria de Fátima como musa inspiradora?

Antes de tudo, eu devo explicar para você que “do erro ao acerto: Maria de Fátima como musa inspiradora?” é originalmente uma e-carta de “Estilo para Curiosas”.

Decidi torná-la pública aqui na blogsfera e você conhecerá o seu contéudo quase que por completo. Quase, pois as minhas fotos pessoais foram postadas na minha newsletter! Inscreva-se!

Do erro ao acerto: Maria de Fátima como musa inspiradora?

Era novembro de 1988, menos de um mês para o tão aguardado dia, e eu tinha um sério problema.

O que seria um sério problema na vida de uma garota de quase 14 anos?

Um vestido.

Um vestido não, como diria Geisy Arruda e o Twitter, um pedaço da história.

Pode não ser um pedaço da história nacional, como foi acompanhar o desprezo de uma filha, Maria de Fátima, pela mãe, Raquel Acioly, retratado na novela Vale Tudo, mas é um pedaço da história.

Um pedaço da minha história com a minha mãe.

O baile de Formatura da 8ª série

O dia do grande baile da minha formatura de 8ª série estava chegando e o meu vestido ainda não estava pronto.

Pior que isso, ele até estava pronto, dentro do que tinha sido pensado, desenhado e sugerido pela estilista, mas, acima de tudo, o vestido estava chocho, sem graça, como se faltasse alguma coisa que eu não conseguia explicar no alto dos meus 13 anos.

Revivendo agora o sentimento de decepção ao provar aquele idealizado vestido, a vontade é dar uma de Marco Aurélio e demitir aos berros aquela estilista incompetente.

A estilista era eu.

Talvez o tecido, um tafetá totalmente liso, não foi uma escolha feliz para dar vida ao estilo clean, moderno, minimalista ou qualquer que seja o nome da proposta que eu tinha imaginado.

Quando eu vislumbrei o traje de gala para tal data especial, tudo o que eu queria era fugir de decotes princesas, tules e rendas.

Anos antes, eu tive uma experiência traumática com decotes princesas, tules e rendas em um vestido romântico da primeira comunhão, que, além de deixar à mostra o meu bracinho fininho, o meu torso ficou parecido com uma tábua de passar roupa, sem peito nem bunda, um modo de falar, pois com certeza eu não tinha peito nem bunda naquela época.

Inegavelmente, aquele vestido evidenciou a magreza dos meus 10 anos. A arte da moda não deveria ser a exaltação dos pontos fortes e uma poderosa ferramenta para a autoestima? Não foi o caso.

Portanto, o meu vestido para o baile de formatura era uma questão de vida ou morte para mim.

Três problemas e nenhuma solução

Além disso, eu tinha outros dois problemas com aquele traje.

Em segundo lugar, o vestido estava curto demais, e não estou sendo pudica não, quem me conhece sabe o quanto eu posso ser justa, curta e decotada quando eu quero, mas rodado e com a “popa” do bumbum à mostra, amiga, aquilo não iria funcionar para tudo o que envolvia o baile, como subir as escadas do palco para receber os cumprimentos dos professores e dançar na pista como se não houvesse amanhã.

Terceiro, eu não tinha mais tecido suficiente para fazer grandes modificações. Do tafetá de um metro e meio de largura, havia restado apenas uma tira de, no máximo, vinte centímetros de comprimento.

Uma alternativa seria… Recomeçar do zero? Comprar um outro tecido e criar um novo modelo de vestido? Talvez.

Porém… E o trabalho que a costureira teve ao fazer o molde e costurar a peça? Eu poderia considerar o fato deste trabalho todo ser “jogado fora”?

Bom, eu não faria isso com a minha mãe.

Recapitulando, eu tinha três problemas com o meu vestido:

  1. Sem graça.
  2. Curto.
  3. E apenas vinte centímetros de tecido para dar um jeito nisso.

O que seria possível fazer com uma tira de tecido?

O meu mundo estava prestes a acabar… E eu tinha menos de 30 dias!

Um dos passatempos disponíveis para garotas como eu, enquanto os pais estavam trabalhando, era assistir TV. Programas infantis pela manhã, filmes na sessão da tarde e novelas na hora do jantar.

No ano de 1988, Vale Tudo foi a novela das oito.1

moda-aos-80-maria-fatima-vale-tudo

Eu não me lembro de nenhuma palavra de consolo nem abraços aconchegantes vindos de minha mãe, para aplacar o meu desespero.

Enquanto isso, na novela, Solange Duprat, a moderna e carismática produtora de moda era a minha heroína.

Eu nunca iria imaginar que, quem iria me salvar seria a dissimulada e vigarista Maria de Fátima.

Vale Tudo

Eu não sei ao certo se foi um vestido específico que a personagem Maria Fátima usou na novela ou se foi o figurino dela como um todo que inspirou a solução e se tornou a versão final do meu vestido de baile.

moda-anos-80-vale-tudo-maria-fatima-02

“Mãe, já sei! Vamos acrescentar uma saia justa por baixo da saia rodada! Será que vai dar?”, eu disse.

Hoje eu chego a conclusão que minha mãe era uma mulher de mais ações e menos abraços e palavras de consolo.

Uma mulher criativa, amante da costura, casada com um ex-feirante que virou dono de padaria, uma mulher que literalmente colocava a mão na massa para ajudar a família.

Minha mãe, a minha verdadeira musa inspiradora.

Foto: minha mãe e eu, na minha colação de grau, 1988.

A solução que encontramos, juntas, uniu experiência, criatividade e tendência de moda. E acima de tudo, amor.

Ser criativo é, com poucos recursos, solucionar problemas.

Como a quantidade de tecido que tínhamos não daria para fazer toda a nova peça que seria acoplada ao vestido, minha mãe, com sua experiência na arte de costurar, sugeriu usar a tira de tafetá apenas na parte que ficaria à mostra.

O restante da saia tulipa, que ficaria sob a saia rodada, foi feito com um tecido simples e baratinho, como se fosse um forro.

O poder do cabelo, maquiagem e acessórios

Satisfeita com a solução encontrada para o meu vestido? Sim!

Entretanto, eu ainda estava longe de me sentir segura.

Com o intuito de me sentir mais confiante, confessei para a minha mãe que eu gostaria de usar luvas, acreditando que, com elas, eu ficaria mais arrumada e adequada ao baile.

Lembra que eu contei para você que minha mãe era uma mulher de ação e poucas palavras?

Minha mãe não apenas me levou até a loja para comprar as benditas luvas, como também – sem eu precisar pedir ou argumentar, pois, na verdade eu não iria pedir, nem argumentar – agendou um cabeleireiro para mim.

Aos 13 anos eu não tinha noção da importância de um penteado, uma maquiagem feita por profissional e o poder dos acessórios na montagem de um look, principalmente, para eventos especiais. Seria o tal dress code?.

Intuição e percepção estão além da intelectualidade

Para a minha sorte, minha mãe tinha essa noção. Intuitivamente, mas tinha.

Minha mãe, uma mulher que cresceu na roça, tinha uma percepção aguçada do mundo ao seu redor.

Nesse sentido, ela identificou o talento do meu irmão para as artes – quando criança, ele gostava de desenhar nas paredes de casa, minha mãe contava com orgulho – e colocou ele para estudar em uma escola técnica de publicidade e propaganda.

Desse modo, meu irmão mais velho se tornou o primeiro membro de sua geração na família a migrar de uma escola pública para uma escola particular, iniciando assim, um movimento que apostava na educação como um elemento de transformação, e, em um efeito dominó, influenciou os meus tios e seus filhos, meus primos, e da mesma forma, a mim.

Conclusão

No meu caso com o vestido do baile, eu só percebi o real resultado de toda a sequência de ações de minha mãe quando as fotos da minha formatura ficaram prontas.

Ao contrário do que aconteceu na minha primeira comunhão, eu quis ter quase todas as fotos da minha formatura como recordação.

Eu me sentia muito feliz!

Em conclusão, eu me pergunto para você, ” arte da moda é ou não é uma poderosa ferramenta para a autoestima?”. Deixe a sua opinião nos comentários.

Um beijo e até +,

Denise

1 exibida de 16/05/1988 a 06/01/1989, fonte Wikipedia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *